sábado, setembro 02, 2006

AMORES, MEMÓRIAS E PEIXINHOS DOURADOS


AMORES, MEMÓRIAS E PEIXINHOS DOURADOS

Texto: Valéria Lemos Palazzo


“A memória de um peixinho dourado dura só três segundos. Então, depois de uma volta pelo aquário, tudo é novidade. Cada vez que dois peixinhos se vêem, é como se fosse à primeira vez”. Citação do Filme “The Goldfish Memories”


Três segundos é o tempo que dura à memória de um peixinho dourado de aquário como se fosse um HD virtual de alta rotatividade. Já a nossa pode ser comparada a um HD de altíssima capacidade. Fazendo com que nos lembremos até das primeiras lembranças da infância.
São essas memórias que fazem de nos o que somos. Tanto que “perder a memória”, é perder-se de si mesmo.
São minhas memórias que fazem de mim quem sou.
Porem diante dos nossos afetos e amores, nossa memória tem a capacidade, embora nem todas a usem, de ser muito semelhante aquela do peixinho dourado; que acaba servindo de metáfora para os vários encontros e desencontros, perdas e ganhos que vamos tendo pela vida.
Cada vez que nos apaixonamos é como se fosse à primeira vez, como se as boas e – por que não? – más lembranças de um antigo amor pudessem ser cicatrizadas e esquecidas rapidamente. Um amor desencontrado pode ter vida longa ou curta, porem geralmente vive em nos somente até que outro apareça e rapidamente o desaloje do nosso coração.
Daí o sábio e popular conselho: “Para esquecer um amor nada melhor do que um novo amor”.
Diante do novo alguns terão uma memória de peixinho dourado, para este tudo será novidade.
Para outros porem, um antigo amor se transforma em deserto na geografia da memória. Algo tão árido e difícil de ser superado que muitos têm como sonho realizar tratamento semelhante ao do filme “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, onde as memórias do amor são subitamente apagadas da memória.
Afinal quem já não quis esquecer alguém do dia para noite?
Então podemos ser como os peixes dourados: e cada novo relacionamento será tão intenso quanto o anterior.
Mas será que deixamos tudo para trás com tanta rapidez assim? Algumas paixões nunca são esquecidas, por mais voltas que insistamos em dar pelo aquário.
E mesmo encontrando novos peixes sempre existirão aqueles que serão eternamente mais dourados que os outros. Talvez mesmo o que os torne assim seja a ausência, já que agora nadam por outros aquários. E justamente é a distância, a "não presença", que torna mais dourados estes peixes, que mesmo por breves momentos ocuparam nosso aquario e nadaram por nossas aguas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse último parágrafo foi maravilhoso.

Bem que eu queria ter a memória curta como a de um peixinho dourado... :(