quinta-feira, dezembro 13, 2007

CONCENTRAÇÃO



Muito se ouve sobre o fato que é necessário ter objetivos na vida.
Não negamos isso, porém o que não imaginamos é que TUDO tem um lado positivo e um negativo, ou mesmo uma “medida” aonde o que era desejável passa a ser indesejável. Assim como um único fio na cabeça é pouco, e um único fio de cabelo em uma xícara de café é muito. O modo como nos colocamos diante de um objetivo pode nos levar a vitória ou a derrota.
Não discutiremos a necessidade de estabelecermos objetivos. Porém o que devemos questionar é o quanto estes objetivos não se transformam em pensamentos obsessivos. Se cada vez que você se coloca uma meta, um objetivo ele se transformar em uma obsessão você esta agindo de maneira errada.
Você ficará cada vez mais fechado e atormentado com aquilo, ao invés de ficar mais aberto para poder articular e buscar soluções.
Você já percebeu que grandes gênios da nossa historia nas mais diferentes áreas, conseguiram as respostas que precisavam e buscavam, justamente quando tinham de alguma forma, deixado a “obsessão de lado”?
A resposta, a solução, muitas vezes veio através de um sonho, ou quando realizavam algum tipo de atividade “bem distante” da proposta. Isto só mostra que se concentrar demais naquilo que desejamos, pode não ser a melhor forma de conseguirmos o que buscamos.
Se você concentra-se demais em algo, acaba estreitando a sua consciência, e exclui o todo. O todo ao redor, o todo relacionado à questão. O todo que ainda não se revelou, o todo que embora exista, não foi “visto” por você. Você torna-se unidirecionado. Quando, na verdade, para resolver ou buscar algo, o que mais funciona é ter uma multiplicidade de caminhos.
A concentração excessiva em algo faz com que você fique cada vez mais tenso e ansioso. Daí a origem da palavra “atenção”. Ela significa “em-tensão”. Por isso, quanto mais concentrado, quanto maior a atenção focada, maior a tensão resultante. A própria palavra concentração dá uma idéia e uma sensação de contrição, de aprisionamento e restrição.
A concentração é útil, e deve ser usada em varias situações, assim como a historia do fio de cabelo, tudo é relativo, dependendo de onde e como é utilizado.
A concentração tem seu lado “positivo” num trabalho cientifico, em uma pesquisa cientifica, num laboratório, aonde você precise de concentração.
Mas, sejamos sinceros, quantas vezes estamos diante de situações assim?
Mesmo um cientista, deve manter sua concentração dentro de um laboratório e não leva-la para sua vida diária e cotidiana.

Nossa tendência é concentramo-nos em um problema e/ou questão específica e excluirmos tudo o mais, de forma que você se torna esquecido do mundo ao redor. O problema sobre o qual você esta concentrado se transforma, e limita o seu mundo.
Você fica alheio, imperceptível ao resto do mundo.

Por isso, muitas vezes, os cientistas são retratados como pessoas distraídas, como se vivessem no “mundo da lua”. As pessoas que se concentram demais realmente tendem a se tornar distraídas de tudo aquilo que não for o que elas buscam.
Elas não sabem como se tornar e permanecer abertas para o resto do mundo. O seu universo se restringe ao seu questionamento. Tornam-se unidirecionados e sua mente se estreita.
Uma mente estreita tem uma utilidade, ela se torna mais penetrante. Assim como alguém que atira com arco e flecha. Ele tem um único foco que é a mira central do alvo.
Quanto maior concentração maior a probabilidade de acertar. Ele pode acertar exatamente no alvo, mais perde todo o mundo, o universo que existe ao seu redor.
Nossos problemas não podem ser vistos como um arqueiro enxerga seu alvo.
Caso você se comporte assim estará perdendo todo um universo que acontece a todo instante.
Talvez seu “alvo” não esteja aonde você mira seu foco. Talvez seu alvo esteja exatamente fora da sua zona de concentração. E por estar tão concentrado você não consiga acerta-lo. Para acertar o seu alvo, talvez você tenha que deixar a sua concentração e mira, e tenha que olhar em volta. Olhar o que ainda não viu. Considerar aquilo que esta fora.
Seu alvo, sua concentração em um único ponto certeiro, exclui toda uma vida que acontece ao seu redor.
Por isso muitas vezes a solução do problema, a sua resposta só aparece quando você relaxa, desconcentra e relaxa.
A rigidez da concentração, da obsessão faz com que você se torne rígido, e na rigidez nada penetra, nada tem acesso. Enquanto no relaxamento tudo se abre, permitindo assim que as respostas e soluções “venham” para você.

Texto: Valéria Lemos Palazzo