sábado, outubro 27, 2007


HORA DA COLHEITA NO MEU POMAR...

sexta-feira, outubro 26, 2007

NÃO SEJA MORNO



Há uma frase que é sempre proferida, quando em determinadas circunstancias deseja-se cobrar de alguém uma postura direta, uma posição explicita ou até, uma atitude clara: Deus vomitará os mortos! Essa ameaça também serve para amedrontar aqueles que seguem pela vida afora sem nunca aproximar-se minimamente dos extremos, ficando sempre no ansiado ou proclamado como seguro “caminho do meio”.
Deus vomitara os mortos! Esta lá no apocalipse (ultimo livro da Bíblia): “Conheço tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te da minha boca”. Essa admoestação colide frontalmente com um dos pilares da moral greco-romana desde a antiguidade e que impregna com intensidade a moral do cotidiano: a virtude esta no meio.
O que não se deve esquecer é que esse caminho pode também ser o da mediocridade. Em nome da sobriedade, da prudência e do comedimento, o maximo que se tem em muitas situações é a mornidade mediana, regrada e constantemente refreada.
Nesse sentido, para não ser morno, é preciso ser radical. Cuidado! Em nosso vocabulário usual é feita uma oportunista confusão entre radical e sectário. Radical é aquele que etimologicamente se firma nas raízes, isto é, que não tem convicções superficiais, meramente epidérmicas. Radical é alguém que procura solidez nas posturas e deccões tomadas, não repousando na indefinição dissimulada e nas certezas medíocres. Por sua vez, o sectário é o que é parcial, intransigente, faccioso, ou seja, aquele que não é capaz de romper com seus próprios contornos e dirigir o olhar para outras possibilidades.
É preciso ter limites, mas estará o limite exatamente no meio? Não é necessário ir até os extremos, mas é essencial não ficar restrito ao confortável e letárgico centro, muitas vezes o centro pode ficar anódino, inodoro, insípido e incolor.
A sabedoria para equilibrar essas inquietações pode ser encontrada na reflexão feita no século 5 AC pelo fisosifo chinês Confúcio:
“Eu sei por que motivo o meio-termo não é seguido: o homem inteligente ultrapassa-o, e o imbecil fica aquém”.
Este texto foi escrito por Mario Sergio Cortella. Mas a mesma frase “seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito” é citada no seguinte trecho do discurso proferido por Nizan Guanaes na formatura dos alunos de comunicação de uma faculdade de São Paulo:
“É exatamente isso que está escrito na carta de Laudiceia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. É preferível o erro à omissão. O fracasso, ao tédio. O escândalo, ao vazio. Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso. Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido. Tendo consciência de que, cada homem foi feito para fazer história. Que todo homem é um milagre e traz em si uma revolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro.”